Eugénio de Andrade - Ascolto il silenzio
Poesie scelte: EUGENIO DE ANDRADE, Dal mare o da altra stella (Roma, Bulzoni Editore 2006).
Ascolto il silenzio: in aprile
i giorni sono
fragili, impazienti e amari;
i passi
minuti dei tuoi sedici anni
si perdono per le strade, ritornano
con resti di sole e pioggia
sulle scarpe,
invadono il mio dominio di sabbie
spente,
e tutto inizia ad essere uccello
o labbra, e vuole volare.
Un rumore cresce lentamente,
oh, lentamente
non cessa di crescere,
un rumore di palpebre
o petali
sale di terrazzo in terrazzo,
scopre un giorno
di ceneri con vestigia di baci.
Un solo rumore di sangue
giovane:
sedici lune alte,
selvagge, innocenti e allegre,
ferocemente intenerite;
sedici puledri
bianchi sulla collina sopra le acque.
Come un fiume cresce, cresce un rumore;
voglio dire,
così un corpo cresce, così
i pruni selvatici
del giardino,
così le mani,
tanto piene di allegria,
tanto piene di abbandono.
Un rumore di semi,
di capelli
o erbe appena tagliate,
un irreale albeggiare di galli
cresce con te,
nella mia notte di quattro muri,
sulla soglia della mia bocca,
dove indugi nel dirmi addio.
Ascolto un rumore: è solo silenzio.
Traduzione di Federico Bertolazzi
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Escuto o Silêncio
Escuto o silêncio: em abril
os dias são
frágeis, impacientes e amargos;
os passos
miúdos dos teus dezasseis anos
perdem-se nas ruas, regressam
com restos de sol e chuva
nos sapatos,
invadem o meu domínio de areias
apagadas,
e tudo começa a ser ave
ou lábios, e quer voar.
Um rumor cresce lentamente,
oh, lentamente
não cessa de crescer,
um rumor de pálpebras
ou pétalas
sobe de terraço em terraço,
descobre um dia
de cinzas com vestígios de beijos.
Um só rumor de sangue
jovem:
dezasseis luas altas,
selvagens, inocentes e alegres,
ferozmente enternecidas;
dezasseis potros
brancos na colina sobre as águas.
Como um rio cresce, cresce um rumor;
quero eu dizer,
assim um corpo cresce, assim
as ameixieiras bravas
do jardim,
assim as mãos,
tão cheias de alegria,
tão cheias de abandono.
Um rumor de sementes,
de cabelos
ou ervas acabadas de cortar,
um irreal amanhecer de galos
cresce contigo,
na minha noite de quatro muros,
no limiar da minha boca
onde te demoras a dizer-me adeus.
Escuto um rumor: é só silêncio.